Dentre os pilotos do grid atual, sem dúvida, o nome que mais causa indignação aos brasileiros é o de Fernando Alonso. Para quem não é simpatizante do espanhol, as razões são inúmeras. Falam de sua personalidade, caráter e outras características. Quem o crítica, parece ter convivido com o bicampeão por longo período…
Mas até onde estas razões condizem com a realidade?
Antes de analisar o sentimento do brasileiro em relação a Alonso, vale a pena voltar um pouco no tempo para recordar um sentimento parecido que havia em relação a Michael Schumacher. O alemão, último “rival” de Senna, despertava algo bem semelhante e não são poucos que não admiram o heptacampeão pura e simplesmente por este motivo.
Ainda que haja outros até mais justificáveis, ao exemplo das colisões que envolveram Hill e Villeneuve nas temporadas de 94 e 97, respectivamente e as controvérsias existentes na época em que Rubens Barrichello foi seu companheiro, Michael dominou a F1 por cinco anos consecutivos (2000-2004), o que não contribuiu para a sua popularidade neste país.
Eis que, em 2005, aparece um jovem talento capaz de disputar com Schumacher. A essa altura, muitos queriam que qualquer um fosse campeão, desde que a hegemonia germânica chegasse ao fim. Neste ano, Alonso disputou o título diretamente com Raikkonen, mas não sem travar duelos memoráveis com o alemão em algumas corridas (http://tinyurl.com/ltqrea7). Já em 2006, a Ferrari voltou a produzir um monoposto competitivo e então os dois foram os protagonistas desta temporada.
Volte um pouco no tempo, reflita: nas temporadas de 2005 e 2006, você, que hoje repudia Alonso, não chegou a vibrar com a vitória do espanhol? Em caso positivo, o que o fez mudar de opinião?
Embora 2006 tenha sido marcado pela disputa de Alonso e Schumacher, surgia, mais uma vez, a esperança de ver um brasileiro campeão da categoria: Felipe Massa estreava na equipe de Maranello. Apesar de ter sido contratado para exercer o mesmo papel de seu antecessor (2º piloto), Felipe fez uma boa temporada, com direito a sete pódios (dentre eles duas vitórias) e três poles positions. De fato, foi um começo capaz de dar esperança a seus torcedores, principalmente pelo fato de Schumacher ter anunciado sua aposentadoria ao final daquele ano.
É em 2007 que a simpatia pelo espanhol começa a diminuir.
Para o lugar de Schumacher, a Ferrari trouxe Kimi Raikkonen. Apesar da contratação do finlandês, a torcida fechou os olhos para a filosofia da equipe italiana, que historicamente contrata um piloto para disputar o mundial individual e outro para somar pontos para o campeonato de construtores. Em todo o mundo, sabia-se que a Felipe Massa havia sido relegado o papel de coadjuvante. Apesar disso, até o grande prêmio da Itália, salvo melhor juízo, o brasileiro tentou se manter vivo na disputa e acabou terminando o campeonato em um honroso 4º lugar.
Nesta temporada, Alonso e Massa duelaram em algumas ocasiões, sendo que as que mais chamaram a atenção do público foram a disputa na largada do GP de Barcelona e principalmente o “diálogo” que os dois tiveram após o grande prêmio da Europa ocorrido em Nurburgring. Alonso acusou o brasileiro de ter sido desleal ao tocar-lhe quando estava sendo ultrapassado e a discussão foi acalorada:
Imediatamente a isso, algo que nada contribuiu para que Alonso fosse tido como carismático – o que ele não faz questão – foi o episódio do GP da Hungria, ocasião em que estacionou o carro na frente de Hamilton, para que este não realizasse sua volta rápida, pois o inglês havia anteriormente desobedecido à equipe, atrapalhando a estratégia do espanhol.
Já em 2008, Alonso foi o grande favorecido do Cingapuragate, embora nunca tenha admitido sua participação. Naquele Grande Prêmio, por um erro no pit-stop, a mangueira do reabastecimento ficou grudada no carro de Felipe Massa, que liderava a corrida e tinha tudo para vencê-la, mas terminou apenas em 13º, deixando de somar pontos que poderiam assegurar-lhe o título.
Por fim, o período de quatro temporadas, compreendido entre 2010 e 2013, em que Alonso e Massa foram companheiros de equipe, com destaque para a etapa de Hockenheim, marcada pelo Fernando is faster than you!. Nada pior para o torcedor brasileiro do que reviver as memórias da era Schumacher/Barrichello.
Vale ressaltar ainda a ligação que muitos brasileiros têm pela equipe McLaren, relembrando que a primeira passagem do espanhol por lá não deixou boas recordações. Os episódios elencados são tidos como os principais e certamente influenciam na sua pouca simpatia pelo asturiano. Recorde o acontecido na Hungria em 2007 no vídeo abaixo (após, veja qual foi a opinião de Barrichello acerca do ocorrido neste link http://tinyurl.com/qalvwew).
Conseguiu identificar o motivo – quiçá o conjunto – que o fez não gostar do espanhol?
Dentre eles, creio que o principal tenha sido o fato de Alonso ter acabado com qualquer chance de Massa ter tido algum sucesso na F1, apesar de não ter concorrido diretamente com ele na temporada em que o brasileiro teve sua grande oportunidade.
Particularmente, não compartilho da ideia de que o incidente em Cingapura foi a razão pela qual Massa perdeu o título, até porque o pit-stop seria realizado de uma forma ou de outra e a Ferrari estreava naquela corrida o novo sistema que substituía o antigo “pirulito”.
O grande “problema” foi Felipe ter ficado em segundo plano após a chegada do espanhol na Ferrari…
Mas até onde o carisma é importante? Apesar de alguns não o suportarem, Alonso vem sendo considerado o melhor do grid há algum tempo, mesmo não conquistando um campeonato desde 2006, inclusive foi eleito em 2008, 2010 e 2012 como o melhor do ano pelos chefes de equipe. Esse ano, por exemplo, apesar de não ter vencido uma única corrida, perdeu a eleição apenas para Lewis Hamilton, ficando à frente, portanto, de Rosberg, Ricciardo, Bottas, pilotos que fizeram uma grande temporada…
Após deixar a Mclaren no fim de 2007, ter amargado dois anos na Renault, o bicampeão juntou-se à equipe mais tradicional da categoria, permanecendo lá por cinco anos como o piloto mais bem pago. Acha pouco? Depois de tudo que houve em 2007, volta à equipe de Woking com o mesmo status de melhor piloto, inclusive com o maior salário da história da F1.
Importante ressaltar que aqueles que trabalharam diretamente com Alonso – e que, em tese, poderiam até não ter motivos para falar bem do espanhol – o colocam no mais alto nível. Nelsinho Piquet, Montezemolo, Rob Smedley e o próprio Felipe Massa já afirmaram que o espanhol é um piloto mais completo do que Michael Schumacher, sendo que os três últimos tiveram oportunidade de trabalhar com ambos.
Ninguém é obrigado a torcer por Alonso, entretanto deixar de reconhecer seu talento e capacidade de extrair tudo e mais pouco dos péssimos carros que tem pilotado só irá depor contra você, pois não é uma atitude muito inteligente, já que o espanhol mostra, ano após ano dentro das pistas, que você está errado.
Ele é altamente competitivo, péssimo perdedor, diga-se… Mas quem quer ao seu lado alguém que fique satisfeito com a derrota? Caso não se lembre, havia outro piloto que queria vencer a todo custo… O nome dele? Ayrton Senna, referência do espanhol. Há mais semelhanças entre Senna e Alonso do que você imagina.
Como um amigo costumava dizer: se Alonso fosse brasileiro, seria unanimidade.
13/12/14.