Por que você odeia Fernando Alonso?

Dentre os pilotos do grid atual, sem dúvida, o nome que mais causa indignação aos brasileiros é o de Fernando Alonso. Para quem não é simpatizante do espanhol, as razões são inúmeras. Falam de sua personalidade, caráter e outras características. Quem o crítica, parece ter convivido com o bicampeão por longo período…

Mas até onde estas razões condizem com a realidade?

Antes de analisar o sentimento do brasileiro em relação a Alonso, vale a pena voltar um pouco no tempo para recordar um sentimento parecido que havia em relação a Michael Schumacher. O alemão, último “rival” de Senna, despertava algo bem semelhante e não são poucos que não admiram o heptacampeão pura e simplesmente por este motivo.

Ainda que haja outros até mais justificáveis, ao exemplo das colisões que envolveram Hill e Villeneuve nas temporadas de 94 e 97, respectivamente e as controvérsias existentes na época em que Rubens Barrichello foi seu companheiro, Michael dominou a F1 por cinco anos consecutivos (2000-2004), o que não contribuiu para a sua popularidade neste país.

Eis que, em 2005, aparece um jovem talento capaz de disputar com Schumacher. A essa altura, muitos queriam que qualquer um fosse campeão, desde que a hegemonia germânica chegasse ao fim. Neste ano, Alonso disputou o título diretamente com Raikkonen, mas não sem travar duelos memoráveis com o alemão em algumas corridas (http://tinyurl.com/ltqrea7). Já em 2006, a Ferrari voltou a produzir um monoposto competitivo e então os dois foram os protagonistas desta temporada.

Domínio de Schumacher chega ao fim.

Domínio de Schumacher chega ao fim.

Volte um pouco no tempo, reflita: nas temporadas de 2005 e 2006, você, que hoje repudia Alonso, não chegou a vibrar com a vitória do espanhol? Em caso positivo, o que o fez mudar de opinião?

Embora 2006 tenha sido marcado pela disputa de Alonso e Schumacher, surgia, mais uma vez, a esperança de ver um brasileiro campeão da categoria: Felipe Massa estreava na equipe de Maranello. Apesar de ter sido contratado para exercer o mesmo papel de seu antecessor (2º piloto), Felipe fez uma boa temporada, com direito a sete pódios (dentre eles duas vitórias) e três poles positions. De fato, foi um começo capaz de dar esperança a seus torcedores, principalmente pelo fato de Schumacher ter anunciado sua aposentadoria ao final daquele ano.

É em 2007 que a simpatia pelo espanhol começa a diminuir.

Para o lugar de Schumacher, a Ferrari trouxe Kimi Raikkonen. Apesar da contratação do finlandês, a torcida fechou os olhos para a filosofia da equipe italiana, que historicamente contrata um piloto para disputar o mundial individual e outro para somar pontos para o campeonato de construtores. Em todo o mundo, sabia-se que a Felipe Massa havia sido relegado o papel de coadjuvante. Apesar disso, até o grande prêmio da Itália, salvo melhor juízo, o brasileiro tentou se manter vivo na disputa e acabou terminando o campeonato em um honroso 4º lugar.

Nesta temporada, Alonso e Massa duelaram em algumas ocasiões, sendo que as que mais chamaram a atenção do público foram a disputa na largada do GP de Barcelona e principalmente o “diálogo” que os dois tiveram após o grande prêmio da Europa ocorrido em Nurburgring. Alonso acusou o brasileiro de ter sido desleal ao tocar-lhe quando estava sendo ultrapassado e a discussão foi acalorada:

Imediatamente a isso, algo que nada contribuiu para que Alonso fosse tido como carismático – o que ele não faz questão – foi o episódio do GP da Hungria, ocasião em que estacionou o carro na frente de Hamilton, para que este não realizasse sua volta rápida, pois o inglês havia anteriormente desobedecido à equipe, atrapalhando a estratégia do espanhol.

Já em 2008, Alonso foi o grande favorecido do Cingapuragate, embora nunca tenha admitido sua participação. Naquele Grande Prêmio, por um erro no pit-stop, a mangueira do reabastecimento ficou grudada no carro de Felipe Massa, que liderava a corrida e tinha tudo para vencê-la, mas terminou apenas em 13º, deixando de somar pontos que poderiam assegurar-lhe o título.

Por fim, o período de quatro temporadas, compreendido entre 2010 e 2013, em que Alonso e Massa foram companheiros de equipe, com destaque para a etapa de Hockenheim, marcada pelo Fernando is faster than you!. Nada pior para o torcedor brasileiro do que reviver as memórias da era Schumacher/Barrichello.

Vale ressaltar ainda a ligação que muitos brasileiros têm pela equipe McLaren, relembrando que a primeira passagem do espanhol por lá não deixou boas recordações. Os episódios elencados são tidos como os principais e certamente influenciam na sua pouca simpatia pelo asturiano. Recorde o acontecido na Hungria em 2007 no vídeo abaixo (após, veja qual foi a opinião de Barrichello acerca do ocorrido neste link http://tinyurl.com/qalvwew).

Conseguiu identificar o motivo – quiçá o conjunto – que o fez não gostar do espanhol?

Dentre eles, creio que o principal tenha sido o fato de Alonso ter acabado com qualquer chance de Massa ter tido algum sucesso na F1, apesar de não ter concorrido diretamente com ele na temporada em que o brasileiro teve sua grande oportunidade.

Particularmente, não compartilho da ideia de que o incidente em Cingapura foi a razão pela qual Massa perdeu o título, até porque o pit-stop seria realizado de uma forma ou de outra e a Ferrari estreava naquela corrida o novo sistema que substituía o antigo “pirulito”.

O grande “problema” foi Felipe ter ficado em segundo plano após a chegada do espanhol na Ferrari…

Mas até onde o carisma é importante? Apesar de alguns não o suportarem, Alonso vem sendo considerado o melhor do grid há algum tempo, mesmo não conquistando um campeonato desde 2006, inclusive foi eleito em 2008, 2010 e 2012 como o melhor do ano pelos chefes de equipe. Esse ano, por exemplo, apesar de não ter vencido uma única corrida, perdeu a eleição apenas para Lewis Hamilton, ficando à frente, portanto, de Rosberg, Ricciardo, Bottas, pilotos que fizeram uma grande temporada…

Após deixar a Mclaren no fim de 2007, ter amargado dois anos na Renault, o bicampeão juntou-se à equipe mais tradicional da categoria, permanecendo lá por cinco anos como o piloto mais bem pago. Acha pouco? Depois de tudo que houve em 2007, volta à equipe de Woking com o mesmo status de melhor piloto, inclusive com o maior salário da história da F1.

Importante ressaltar que aqueles que trabalharam diretamente com Alonso – e que, em tese, poderiam até não ter motivos para falar bem do espanhol – o colocam no mais alto nível. Nelsinho Piquet, Montezemolo, Rob Smedley e o próprio Felipe Massa já afirmaram que o espanhol é um piloto mais completo do que Michael Schumacher, sendo que os três últimos tiveram oportunidade de trabalhar com ambos.

Ninguém é obrigado a torcer por Alonso, entretanto deixar de reconhecer seu talento e capacidade de extrair tudo e mais pouco dos péssimos carros que tem pilotado só irá depor contra você, pois não é uma atitude muito inteligente, já que o espanhol mostra, ano após ano dentro das pistas, que você está errado.

Ele é altamente competitivo, péssimo perdedor, diga-se… Mas quem quer ao seu lado alguém que fique satisfeito com a derrota? Caso não se lembre, havia outro piloto que queria vencer a todo custo… O nome dele? Ayrton Senna, referência do espanhol. Há mais semelhanças entre Senna e Alonso do que você imagina.

Como um amigo costumava dizer: se Alonso fosse brasileiro, seria unanimidade.

13/12/14.

Final feliz para a Mercedes é com Hamilton campeão.

A temporada de 2014 está chegando ao fim. Um ano marcado pelo domínio da equipe Mercedes e pela disputa entre seus dois pilotos. A escuderia alemã confirmou os rumores que tomavam o paddock desde o ano passado e desenvolveu uma unidade motriz infinitamente superior à da concorrência. Devido a isso, o campeonato de construtores foi definido com certa antecedência.

Amanhã, apenas um terá motivo para festejar.

Não há dúvida! A preferência da Mercedes é por Lewis Hamilton! A equipe não esconde este desejo, mostrando-se preocupada com o sistema de pontos dobrados introduzido este ano e que pode dar a Rosberg a chance de reverter a diferença de 17 pontos. Eis as declarações dadas por Toto Wolff:

Esperançosamente, os pontos dobrados não farão diferença. Seria colocada uma grande sombra sobre o campeonato, se ele se transformasse em uma questão técnica. Quem quer que tenha mais pontos no fim da temporada é o digno campeão. Entretanto, se realmente chegar a esse ponto, alguns de nós terão uma sensação diferente sobre isso, assim são as coisas.”

Desejo da equipe.

Desejo da equipe.

O inglês, que faz a melhor temporada de sua carreira, conquistou dez vitórias contra cinco de Rosberg, mostrou-se mais maduro e, embora tenha cometido alguns erros, conseguiu superar situações de grande desvantagem pelo menos duas vezes. Mas estes não são os motivos que fazem de Lewis o preferido.

As verdadeiras razões se resumem à questão financeira e já foram discutidas anteriormente em outros posts, notadamente nestes: http://wp.me/p4f3dZ-2y e http://wp.me/p4f3dZ-a5). Fosse a situação inversa e Hamilton estivesse na segunda colocação, Toto Wolff certamente estaria parabenizando o idealizador da pontuação dobrada, mas como ele disse, assim são as coisas.

Apesar disso, a Mercedes não dá mostras de que irá interferir diretamente na disputa. Prova disso é que Nico Rosberg cravou a pole position no circuito de Yas Marina, enquanto Hamilton sairá da segunda posição, o suficiente para assegurar o seu segundo título.

E isso só não acontecerá caso haja alguma falha técnica ou acidente que o tire definitivamente do GP de Abu Dhabi. Ainda que eventualmente Hamilton perca algumas posições na largada, a vantagem do carro da escuderia alemã é grande o suficiente para que ele se recupere no decorrer da corrida.

Difícil, mas não impossível.

Difícil, mas não impossível.

Quem será o campeão?

Não adianta tentar adivinhar. O inglês tem vantagem considerável, fez uma grande temporada e, no geral, foi melhor do que seu companheiro. Mas corridas são imprevisíveis e por isso o clima de tensão e ansiedade estão presentes de forma acentuada nessa decisão.

Se Hamilton ganhou dez vezes, Rosberg fez mais poles, e trabalhou duro para chegar à última etapa com chances reais de título. Se Lewis é naturalmente mais talentoso, Nico tem a disciplina como aliada. Argumentos não faltam para ambos…

Portanto, desde já, parabéns ao vencedor! Seja quem for o campeão, o título estará bem representado.

22/11/14.

É hora de dar tchau, Mr. Ecclestone…

A entrevista de Bernie Ecclestone, todo poderoso da F1, à Revista Campaign está dando o que falar. Além de reafirmar seu ponto de vista em relação às redes sociais (simplesmente as despreza), o inglês basicamente disse que o público jovem não faz falta à Fórmula 1.

Ninguém há de contestar o seu sucesso. Em resumo, um homem que era mecânico, virou chefe de equipe e transformou-se no presidente da FOM (Formula One Management) merece reconhecimento e admiração, não há dúvida. Porém, como afirmado por Bernie na entrevista, os tempos mudam. Apesar disso, parece ignorar que a não adaptação às mudanças, por mais empreendedor que seja, colocará seu negócio em risco.

Tem sido este o caso da Fórmula 1. Ano após ano, a audiência diminui. Há algum tempo as equipes pequenas – que também não interessam a Bernie – e médias têm dificuldade para se manter na categoria. A crise está instalada, embora Ecclestone afirme o contrário. E ele precisará ser muito habilidoso para contorná-la.

Lucro garantido até quando?

Lucro garantido até quando?

A polêmica mais recente gira em torno da seguinte pergunta feita ao inglês: você acredita que não há valor em alcançar o público jovem? De acordo com suas palavras, ele prefere “velhos ricos de 70 anos”, pois são estes que podem consumir os produtos comercializados pelos patrocinadores (http://tinyurl.com/pdb5aj7).

Embora suas afirmações choquem quem acompanha a F1, a transmissão atual, cujas imagens são de responsabilidade da FOM, reflete bem a forma de pensar do seu presidente. As corridas visivelmente estão em segundo plano. Há algum tempo, se não desde sempre, as câmeras se preocupam mais em mostrar as “marcas”, do que a disputa em si. Talvez a Fórmula 1 seja o esporte que mais visibilidade oferece às empresas, pela forma como as corridas são exibidas.

Isso acontece em todos os grandes prêmios, mas talvez seja melhor perceptível no GP de Mônaco. Apenas para exemplificar, veja o vídeo abaixo, preste atenção na exibição dos patrocinadores e no foco das imagens. Não raro, a marca aparece primeiro, durante preciosos segundos, para, só então, o carro surgir:

Até onde se sabe, o produto principal é a própria categoria. As grandes empresas só irão querer anunciar nela, pagando altas cifras por isso, caso a Fórmula 1 seja atrativa e atinja a maior quantidade de pessoas possível.

Se a Fórmula 1 fosse vista apenas pelo público preferido de Ecclestone, o que aconteceria depois que esses senhores ricos e da terceira idade fossem embora?

Não se sabe, porém, qual foi seu objetivo ao fazer essas afirmações. Talvez seja apenas a opinião de um homem visionário e bem sucedido, mas que parou no tempo.

Caso tenha sido chamar atenção, acredito que haja outras maneiras, inclusive mais lucrativas.

15/11/14.

Experiência do F1 Ácida no GP do Brasil!

Dessa vez não vou falar da corrida em si, mas tentar passar, em breves linhas, um pouco da experiência que vivenciei no último fim de semana. Fui a Interlagos e acompanhei de perto o Grande Prêmio do Brasil, que sedia a penúltima etapa do campeonato de Fórmula 1.

Há algum tempo acompanho a categoria, mas por morar distante de São Paulo, sempre havia um motivo para deixar de ir. Esse ano foi diferente. Tudo aconteceu muito rápido e até de forma inusitada.

Foi a partir de um tweet do Emílio Rodrigues (@emiliorodrigues), no dia 14 de outubro, perguntando quem iria e alertando acerca do possível esgotamento dos ingressos. Até então não tinha a menor pretensão de ir, simplesmente não estava nos meus planos, mas depois comecei a me perguntar até quando adiaria a minha ida.

Mari Espada (papayaorange.com.br).

Mari Espada (papayaorange.com.br).

Comentei a situação com um amigo (Josué – @JosuelNeto) que, em síntese, praticamente disse ser obrigação minha ir a Interlagos. Pronto, era o incentivo que eu precisava. Rapidamente olhei o preço das passagens (por sorte não estavam caras) e no outro dia cedo já havia comprado tudo. A hospedagem não seria problema, pois parentes não faltam na capital paulista. Daí então, passei a conversar com quem já havia ido e tirar as dúvidas básicas.

Todos se mostraram dispostos a ajudar. Além de responder aos questionamentos feitos, o discurso final era uníssono: você não vai se arrepender! E eles estavam certos. Depois de percorrer mais de dois mil quilômetros para ver, pela primeira vez, o Grande Prêmio do Brasil, só posso descrever a experiência como simplesmente fantástica!

Débora Longen!!!

Débora Longen!!!

Escolhi ficar no Setor G, arquibancada ocupada por torcedores que tem a irreverência como característica principal, notadamente aqueles que ficam ao final da reta oposta. As torcidas Pisa Fundo e GGOO já são tradicionais naquele espaço. Madrugam na fila e garantem o melhor lugar para acompanhar as disputas.

Como dito pelo Emílio, depois da primeira vez, você vai querer repetir a experiência. Ver de perto os carros, ouvir o barulho dos motores (que embora não seja como outrora, ainda é bom), acompanhar as disputas a poucos metros… Tudo é muito emocionante. Enfim, se você acompanha a F1, não pode deixar de ir.

Igor Paulino . Alvos da Torcida Pisa Fundo!

Igor Paulino . Alvos da Torcida Pisa Fundo e GGOO!

Gostaria de deixar meu agradecimento, pela atenção que me foi dada, a todos que de alguma forma se dispuseram a ajudar, mas principalmente aos já citados Emílio Rodrigues e Josué Neto (incentivador), a Pri Uzun, Juliana Gonçalves, Will Mesquita e, em especial, a Débora Longen e Mari Espada, as quais tive o prazer de conhecer! Registro também meu obrigado a Igor Paulino, que conheci ao descer do trem na estação Autódromo e foi meu guia durante todo o fim de semana.

Valeu muito a pena! Farei o possível para estar presente em 2015.

12/11/2014.

*Para ver algumas fotos e vídeos do GP do Brasil, curta a página do Blog no Facebook: https://www.facebook.com/f1acida.

A temporada de 2015 precisará de mais velocidade.

A temporada de 2014 está perto do fim, faltam apenas três etapas: EUA, Brasil e Abu Dhabi. A Mercedes já garantiu o campeonato de construtores e em breve terá um de seus pilotos campeão, sendo que Hamilton desponta como grande favorito após abrir uma vantagem de 17 pontos para Rosberg. O inglês está com 291 contra 274 de seu companheiro.

Como já mencionado em outros posts, apesar do domínio da Mercedes, a disputa acirrada entre a dupla da equipe alemã não deixou que o tédio tomasse conta das corridas, notadamente quando se compara com os quatro anos de domínio da RBR e que foi visto de forma mais acentuada nos anos de 2011 e 2013.

Outra agradável surpresa foram as atuações de Valtteri Bottas, que ocupa a quarta colocação, tendo conquistado cinco pódios, e, principalmente, Daniel Ricciardo que conseguiu três vitórias em seu primeiro ano na Red Bull e será o líder do time austríaco em 2015, já que Vettel está de saída para a Ferrari.

Apesar da síntese descrita acima, as últimas corridas deixaram a desejar. Desde o Grande Prêmio da Itália, houve uma queda no quesito emoção. Se antes a falta de confiabilidade dos carros causava algum suspense, atualmente, uma vez decidida a ordem natural do grid, não se vê alteração nas posições, tornando os grandes prêmios em verdadeiras “procissões”.

Bottas e Ricciardo surpreenderam este ano.

Bottas e Ricciardo surpreenderam este ano.

O fator que mais tem chamado atenção e talvez seja o que mais contribui para isso é a falta de velocidade dos carros. É o que se constata ao fazer a comparação entre os tempos de pole position e volta mais rápida durante a corrida desta e da temporada passada (http://tinyurl.com/ooutwa5).

A comparação pode ser feita em relação às corridas disputadas em condições de pista seca que o resultado será o mesmo: todos os grandes prêmios deste ano foram mais lentos. Coincidentemente, a etapa mais emocionante deste ano (GP do Bahrein) foi a que mais se aproximou dos tempos obtidos em 2013 e serviu para calar aqueles que já estavam criticando com razão, apesar do modo inadequado ou mesmo inoportuno, a falta de velocidade e a preocupação com o consumo de combustível. Montezemolo, ex-presidente da Ferrari, por estes motivos, chegou a comparar os pilotos da F1 a motoristas de táxi.

A última etapa marcou a estreia da Rússia no calendário da Fórmula 1 e a opinião geral é a de que foi uma corrida entediante. Como foi a primeira vez que a Rússia sediou um grande prêmio, não há parâmetros para comparação. Segundo Hermann Tilke, responsável pelo desenho da pista, o traçado não foi o culpado pela falta de emoção, atribuindo certa responsabilidade a Pirelli:

As primeiras voltas foram ótimas para ultrapassagem, mas depois a batalha estava definida. Nico foi capaz de fazer um grande trabalho ao vir de trás para o segundo lugar e houve algumas outras ultrapassagens no meio do pelotão. Mas é claro que se o piloto mais rápido está na frente do mais lento, pouco acontece. Eu acho que a Pirelli foi um pouco conservadora, pois eles estavam com medo do que aconteceria na nova pista…”

Particularmente, não acredito que o problema esteja necessariamente no traçado. Creio que se os carros forem mais velozes em 2015, o GP de Sochi tem tudo para ser o oposto do que vimos. Se as críticas no inicio do ano não foram bem aceitas e ficaram em segundo plano por conta do GP do Bahrein, está mais do que na hora de se fazer um balanço e pensar nas possibilidades de evolução já para o ano que vem.

Tédio no GP da Rússia.

Tédio no GP da Rússia.

Os responsáveis pela categoria precisam rever o formato da Fórmula 1, pois embora seu público seja fiel, ele é muito exigente. A audiência diminui a cada ano e isso não é “privilégio” do Brasil. Apontar quais medidas deverão ser tomadas não é papel dos espectadores, até mesmo porque a entidade não é aberta a diálogo e mantém uma relação de distância com a torcida, o que é um erro grave.

Nenhum esporte pode retroceder. Os interesses dos patrocinadores devem estar em sintonia com os dos torcedores. Resolvam os problemas internos e tragam para o público uma F1 interessante, que proporcione disputa entre o máximo de equipes possível e que seja VELOZ ao extremo!

A maior categoria do automobilismo não pode perder sua principal característica for falta de capacidade de gerenciamento.

29/10/2014.

FIA: A grande responsável pelo acidente de Bianchi.

Mais uma vez a disputa pela vitória não foi protagonista em um fim de semana de Fórmula 1. Inicialmente houve grande preocupação se a corrida iria ou não acontecer por conta das condições climáticas, depois a notícia de que Vettel iria pra Ferrari ano que vem, por fim o acidente gravíssimo que aconteceu com o piloto da Marussia, Jules Bianchi.

Desde que previram a chegada de um tufão, houve muita discussão sobre a realização da corrida ou da possibilidade de antecipação de seu horário. Até aí tudo bem. Todos estavam torcendo pelo seu acontecimento. Quem acompanha a F1 vive uma eterna ansiedade, mal acaba um grande prêmio, já começa a contagem regressiva para o próximo.

O torcedor, em regra, não se preocupa com a segurança dos pilotos. Normal, não é seu papel, a maioria sequer tem conhecimento para fazer esse tipo de julgamento. Nas redes sociais, várias eram as manifestações querendo corrida no molhado, comparando inclusive as diferentes épocas da F1, sendo que em algumas delas o brasileiro fazia até dança da chuva. O torcedor que ver espetáculo!

Pois bem, caberia à FIA conduzir o evento da forma mais segura possível para os protagonistas do show, entretanto não o fez. O resultado todos sabem: Jules Bianchi encontra-se internado em estado grave, mas estável, após sofrer um gravíssimo acidente.

Bianchi sendo socorrido.

Bianchi sendo socorrido.

Nota-se uma certa preocupação de alguns em tentar aliviar a imagem da federação. Em entrevista, o tricampeão Niki Lauda, por exemplo, pareceu até meio perdido em suas palavras, ao procurar o verdadeiro motivo do ocorrido:

Você não pode dizer que algo foi feito errado. A corrida foi iniciada do modo mais sensato e foi isso que eles fizeram. Mas eles deveriam ter começado mais cedo. Não há dúvida quanto a isso. Era previsível, deveríamos ter começado a corrida às 13:00h. Mas eu não tomo estas decisões. No fim, poderia ter sido melhor“.

Da mesma forma, Jenson Button, que está ameaçado de demissão da Mclaren, também amenizou para o lado da FIA:

Eu acho que a FIA fez um ótimo trabalho para controlar a situação. É muito difícil. Eles estão nos ouvindo o tempo todo. Nós queremos correr, mas queremos fazê-lo de maneira segura. Quando o spray não é muito, você já está quase pronto para colocar os pneus intermediários. Acredito que eles fizeram um ótimo trabalho em controlar a situação, pois não é fácil para eles.”

Como assim não é fácil, Jenson? Como dito acima, a maior parte dos torcedores não está pronto para realizar um julgamento sobre condições seguras de pista. Mas qual a dificuldade que a FIA tem em ordenar a entrada de um Safety Car quando um carro aquaplana anteriormente e há a necessidade de uso de tratores dentro do circuito? Trata-se de uma percepção geral!

A FIA não pode sequer alegar que foi puro azar. Essa é uma tragédia anunciada. Tome-se como exemplo o que aconteceu em Nurburgring em 2007. Naquela ocasião, ainda durante a primeira volta, chovia muito, quando vários carros aquaplanaram no mesmo trecho da pista. Era uma situação flagrante de bandeira vermelha. Quase sobra para o próprio “Safety Car”. Se Liuzzi estivesse um pouco mais rápido, teria sido ele vítima de um acidente muito parecido com o de Bianchi, pois os tratores já se movimentavam no circuito:

No caso do grande prêmio de Suzuka, não existe isso de antecipação de horário ou de tentar colocar a culpa nos organizadores. Não foram esses fatos que determinaram as razões do triste acidente. O dever de dar a última palavra é da FIA. É a entidade que deve se precaver e tomar todas as medidas necessárias para que os pilotos possam correr de forma segura, ainda que isso contrarie torcedores, organizadores e patrocinadores.

Óbvio que foi um acidente! Mas isso não significa que não haja responsáveis. E não adianta procurar outro: a FIA é a grande culpada pela tragédia do fim de semana. Ela simplesmente não tomou as devidas precauções. O momento em que Sutil aquaplanou foi um aviso de que a pista se encontrava mais perigosa do que o normal. Além de não ordenar a entrada do carro de segurança imediatamente, permitiu que tratores operassem dentro do circuito.

Inacreditável!

Talvez a frase que mais defina o sentimento de todos que acompanham a categoria seja a que a Jornalista Jennie Gow, da BBC, divulgou em seu twitter: “Às vezes o esporte que eu mais amo é o que eu mais odeio”.

Agora é torcer pela recuperação do jovem piloto.

#ForzaJules.

06/10/14.

Sebastian Vettel segue os passos de Schumacher.

Depois da notícia bombástica da saída de Fernando Alonso da Ferrari, outra parece ter chocado ainda mais quem acompanha a Fórmula 1: Sebastian Vettel será o seu substituto. A notícia pegou a todos de surpresa, já que o mais cotado para ocupar o lugar do espanhol era o jovem Jules Bianchi, o que até faria mais sentido, pois a equipe de Maranello ainda ficaria com Raikkonen. Outros nomes foram ventilados, como os de Hulkenberg e Grosjean.

Analisando-se o cenário atual, a decisão da Ferrari faz todo sentido. A equipe italiana passa por uma reformulação drástica. Já deixaram a equipe Stefano Domenicali, Luca Marmorini e até o poderoso Luca Di Montezemolo. A morte de Emilio Botin, ex-presidente do Banco Santander, não foi uma perda direta, mas causou forte impacto.

A equipe quer voltar a ganhar, mas parece saber que a curto prazo isso não será possível. Alonso já tem 33 anos e muita pressa. Portanto, Vettel, com 27 anos e já quatro títulos, parece ser a melhor aposta.

Repetirá o sucesso?

Repetirá o sucesso?

Em um passado não tão distante outro alemão deixou de assinar com a McLaren e aceitou o desafio de tentar trazer de volta a Ferrari aos dias de glória, depois de conquistar seu bicampeonato pela Benetton. Na época, as regras eram distintas das atuais, pois era permitido treinar, modificar o motor etc. Mesmo assim, em sua quinta temporada pela equipe, Michael Schumacher teve sucesso em sua empreitada e o resultado todos sabem.

Agora a história se repete. Após ganhar quatro títulos com a Red Bull, Vettel aceita o desafio de correr pela Ferrari. E o momento é bem mais oportuno do que aquele vivido pelo heptacampeão. Já se fala em alteração nas regras de congelamento do motor. Some-se isso, ironicamente, às mudanças solicitadas pelo próprio Alonso, como as contratações dos competentes James Allison e Dirk de Beer.

#KeepFightingMichael

#KeepFightingMichael

Comenta-se que a Mercedes ainda conseguirá manter a superioridade para a temporada de 2015, mas que a partir de 2016 a Ferrari e, provavelmente, a McLaren-Honda poderão desafiar a equipe alemã em condições de igualdade. A essa altura, Vettel já estará familiarizado com o novo ambiente que ocupará. Portanto, o acerto da sua ida já no próximo ano é essencial para sua adaptação e desenvolvimento do novo projeto da Ferrari.

Mesmo encontrando um cenário menos caótico do que aquele da época de Schumacher, a tarefa de Vettel continua árdua. O jovem alemão não faz uma boa temporada e está sendo ofuscado por Ricciardo, a ponto de seu talento ser questionado no paddock. Aceitar o desafio de correr pela Ferrari foi algo corajoso de sua parte e, de certa forma, inteligente, já que um dos grandes responsáveis pelo sucesso da RBR, se não o maior, Adrian Newey, está praticamente de saída da categoria.

Só resta aguardar as cenas dos próximos capítulos. 2015 é logo ali.

04/10/14.

Hamilton merece a liderança, mas não seria diferente com Rosberg.

Após o último GP, disputado em Cingapura, Lewis Hamilton reassumiu a liderança do campeonato. O inglês, considerado o mais talentoso da dupla, abriu uma vantagem de 03 pontos em relação a Rosberg, seu companheiro de equipe. A corrida mais uma vez não foi marcada pela emoção. Simplesmente os carros estão lentos e isso tem tirado um pouco a graça do espetáculo. A entrada do Safety Car gerou certa euforia, mas, no fim, Hamilton fez prevalecer uma vantagem de 2s por volta dos carros da Mercedes, em ritmo de corrida (a classificação foi a mais apertada do ano), para conseguir a vitória.

Os dois pilotos da escuderia vêm fazendo um brilhante trabalho. O campeonato de construtores está praticamente garantido, assim como o de pilotos. Todavia, enquanto no primeiro toda a equipe será premiada, neste último apenas um piloto terá motivos para sorrir. Apesar da retomada da liderança, a disputa promete permanecer acirrada até a etapa final.

Por conta de alguns episódios, mas principalmente por conta da colisão no GP de Spa, Hamilton ganhou preferência da torcida. Como consequência, Rosberg tem sido tratado como vilão, a ponto de receber vaias na Bélgica e em Monza, durante a celebração do pódio.

Deixará a liderança escapar?

Deixará a liderança escapar?

Mas até onde as vaias são justas?

O alemão, de 29 anos, está mostrando que a contratação de Lewis Hamilton – muito cara, diga-se de passagem – não seria necessária para que o campeonato de pilotos fosse assegurado. Até o momento, foram disputadas 14 etapas e Nico Rosberg liderou praticamente toda a competição.

Óbvio que não podemos esquecer os problemas enfrentados por Hamilton e isso já foi discutido anteriormente, mas se um piloto menos experiente, ou mesmo menos capaz do que o inglês, fosse contratado, Rosberg sagrar-se-ia campeão com certa facilidade, sem contar que seria uma grande economia para os cofres da escuderia.

Vale lembrar que das sete vitórias conquistadas por Lewis, o alemão chegou na segunda colocação em cinco delas. Nas outras duas abandonou por falhas mecânicas, sendo que em Silverstone, liderava a corrida até ser forçado a parar por problemas no câmbio.

Rosberg celebra vitória em casa.

Rosberg celebra vitória em casa.

Incidentes de corrida e falhas mecânicas acontecem, fazem parte de toda temporada. Na atual, ambos sofreram com problemas de confiabilidade, estão inclusive empatados nesse quesito. Ficar ponderando sobre o “se” alimenta a discussão, mas não altera a realidade dos fatos.

A verdade é que Rosberg vem fazendo um excelente campeonato. Disputar de igual para igual com Hamilton era algo em que poucos apostariam no início da temporada. Se Hamilton tem mais talento, o alemão é astucioso e trabalha arduamente para ser campeão. Ele sabe que não é tão rápido quanto Lewis, mas sua determinação é admirável.

Em um ano em que a Mercedes dominou completamente, o possível segundo título de Hamilton será muito valorizado, pois apesar da vantagem da equipe, a disputa interna é acirradíssima. A “culpa” é de Rosberg! Caso o campeonato vá mais uma vez para um piloto alemão, também estará em boas mãos.

01/10/14.

GP de Cingapura: corrida vital para as pretensões de Hamilton.

A classificação do Grande Prêmio de Cingapura foi a mais emocionante da temporada até então. Apesar de a hierarquia habitual ter se mantido no fim, ainda não tinha havido um Q3 tão imprevisível. A Mercedes recebeu ameaça direta da Red Bull, Williams e Ferrari, porém assegurou a primeira fila com Hamilton na pole position, mas apenas a sete milésimos de Rosberg.

Sem dúvida, largar em primeiro, em um circuito travado como o de Cingapura, significa grande vantagem. Mesmo cometendo um erro em sua volta lançada, Hamilton cravou o primeiro lugar do grid. Entretanto, das seis etapas que lá ocorreram, o inglês coleciona algumas más memórias.

Se nas duas primeiras corridas disputadas em Cingapura (2008 e 2009), o inglês conseguiu ótimos resultados – um segundo lugar e uma vitória, respectivamente – no ano de 2010, temporada em que já poderia ter se tornado bicampeão, envolveu-se em um incidente com MarK Webber e abandonou a corrida. Naquela ocasião, o australiano que corria pela RBR ainda completou o pódio. Relembre:

Já em 2011, conseguiu um modesto 5º lugar, mas não sem antes se envolver em outra colisão, dessa vez com Felipe Massa. Após a corrida, o brasileiro foi tirar satisfações quando Hamilton dava entrevista, em uma cena até certo ponto hilária (caso não se recorde, basta ver o vídeo abaixo, que inclui outros incidentes). Na temporada seguinte, novo abandono, mas nesta ocasião por problemas no câmbio. Por fim, em 2013, novamente a 5ª posição.

É certo que ao conseguir a pole, Hamilton deu um grande passo para a conquista de sua segunda vitória em Cingapura, mas o primeiro lugar do grid pode não vir a ser um fator tão determinante. As variáveis para esta corrida são muitas. Os rivais mostraram-se mais próximos do que nunca e a possibilidade de haver Safety Car é altíssima. Some-se ainda o fator da estratégia, que deverá exercer um papel de suma importância. Ingredientes para um corrida emocionante. Pelo menos, é o que se espera.

Além de Rosberg, Hamilton terá de lidar com Ricciardo, Vettel, os dois pilotos da Williams e Fernando Alonso, que não esconde o desejo de chegar ao pódio, mesmo largando na quinta posição:

Normalmente, perdemos terreno na classificação. Mas isso não aconteceu hoje, permanecemos competitivos também nela, a dois décimos da pole position, o que é meio que uma grande surpresa para nós. Estou muito contente e espero que amanhã tenhamos oportunidade de correr com os líderes, algo que não fizemos muito este ano… Temos de cruzar a linha de chegada. Se fizermos isso, acho que o pódio é possível, pois temos ritmo e provavelmente uma boa degradação de pneu.”

Atualmente, a vantagem do líder Rosberg é de 22 pontos. Depois desta corrida, ainda restarão mais cinco etapas, lembrando que em Abu Dhabi, última a ser disputada, a pontuação será dobrada para o vencedor. Todavia, um resultado ruim de Hamilton neste grande prêmio pode colocar o alemão com uma mão na taça.

Óbvio que tudo pode acontecer, inclusive a retomada da liderança por parte do inglês, até porque Hamilton guia o melhor carro do grid e está em ótima forma. Ocorre que, ao levar-se em conta as últimas corridas, o cenário não lhe é muito favorável, ainda mais com a possibilidade de disputas acirradas, onde o mínimo erro pode levar ao muro.

Trata-se de uma etapa que é sempre acompanhada de grandes surpresas. O Cingapuragate que o diga.

20/09/14.

Falta de transparência alimenta teorias da conspiração.

O Grande Prêmio da Itália, disputado no lendário circuito de Monza, deixou a desejar no quesito emoção. Merecem destaque a bela corrida de Valtteri Bottas, o fato de Ricciardo ter chegado mais uma vez à frente de Vettel e o primeiro pódio de Felipe Massa neste ano. Mas esses assuntos foram por demais esgotados pela imprensa e falar deles seria mais do mesmo, embora a situação da dupla da Williams mereça ser melhor abordada no futuro.

Além do que fora mencionado acima, um ponto que gerou polêmica foram os erros cometidos por Nico Rosberg, facilitando o caminho da vitória para seu companheiro de equipe Lewis Hamilton. Não só aqui no Brasil, mas no mundo todo, a teoria de que o alemão havia errado de propósito, por conta do que aconteceu no Grande Prêmio da Bélgica (http://wp.me/p4f3dZ-9j), tomou conta das redes sociais.

Apesar de não ser a opinião da maioria que faz parte do meio, tal fato causou certa estranheza a Jackie Stewart. No primeiro, não houve perda de posição, mas no segundo, Hamilton aproveitou-se do suposto equívoco e tomou a liderança do alemão. Eis as palavras do tricampeão:

Na primeira vez eu pensei ‘isso foi sábio’, pois não seria algo difícil de acreditar; na segunda vez eu pensei: ‘opa, o que está acontecendo aqui?’. Não houve tanta fumaça de borracha – na freada – e eu não entendi bem aquilo em uma parte muito fácil da pista. Era uma parte da pista que não que não havia punição para aquele erro, então estou um pouco confuso. Eu pensava que era fácil demais. Achei que ele poderia ao menos ter se esforçado para fazer a curva, mas ele não fez.

Segundo Toto Wolff, co-chefe da Mercedes, apenas uma mente paranoica pensaria que foi algo combinado. O atual líder do campeonato afirma que errou e preferiu não fazer a tomada da curva, pois desgastaria demasiadamente seu pneu, o que comprometeria o decorrer de sua corrida. Para o ex-piloto David Coulthard, atualmente comentarista da BBC F1, Rosberg sentiu-se pressionado e errou o tempo de freada:

Rosberg se pegou pensando durante a corrida: ‘ok, sou o líder, está tudo correndo bem.’ Então, de repente, passou a ser ‘o que? Ele está em segundo?’ e por fim: ‘e agora ele está me alcançando?’. Você começa a pensar naquilo, em vez de guiar o carro. E é assim que você acaba cometendo erros, como os dois feitos por Rosberg na corrida.

A atual temporada traz consigo situações duvidosas e tendo sempre como protagonistas os pilotos da Mercedes. Salvo melhor juízo, a primeira polêmica de maior proporção se deu em Mônaco, quando o próprio Rosberg causou uma bandeira amarela, impossibilitando os demais pilotos de completarem sua volta rápida. Resultado: pole do alemão, uma vantagem preciosa naquele circuito.

Em seguida, o carro de Hamilton apresentou problemas em algumas corridas, fato suficiente para que se levantasse a hipótese de favorecimento ao alemão, principalmente na mente daqueles que torcem pelo britânico, que hoje tem bem mais carisma do que seu companheiro. Entretanto, essa última teoria é bem mais fácil de ser refutada.

Sem abraço em Mônaco.

Sem abraço em Mônaco.

Primeiro, Hamilton foi contratado para ser a grande estrela da equipe. Segundo, o carro do alemão também apresentou problemas, a exemplo do Grande Prêmio do Canadá, quando por mérito conseguiu chegar atrás apenas do vencedor Daniel Ricciardo, enquanto Lewis abandonou, pois não soube administrar o equipamento avariado. Em Silverstone, foi a vez de Nico abandonar, por problemas no câmbio, quando liderava a corrida.

Portanto, ambos sofreram falhas mecânicas. Esse assunto já foi plenamente discutido anteriormente (http://wp.me/p4f3dZ-8V). Porém, no que diz respeito aos episódios de Mônaco e Monza, apenas os envolvidos poderiam confirmar que tudo foi previamente combinado. Como os respectivos discursos são em sentido contrário, o melhor que se faz é conceder-lhes o benefício da dúvida.

Como dito acima, Hamilton foi contratado para ser o primeiro piloto da equipe e não se esperava que Rosberg fosse oferecer tanta resistência ao inglês. É este fato que vem causando tanta “dor de cabeça” aos dirigentes da equipe. Não há dúvida de que Lewis é mais talentoso que seu companheiro – é em torno de dois, quase três décimos mais rápido -, mas o alemão, que pela primeira vez dispõe de um carro que lhe possibilita brigar pelo título, está longe de se satisfazer com o papel de mero escudeiro.

No Brasil, a maior parte dos fãs torce por piloto e não pela equipe. Na Europa, a torcida por equipe que se destaca é dos ferraristas. Óbvio que há quem torça pela McLaren, mas isso se dá em bem menor proporção. Ocorre que, não obstante haver um campeonato de pilotos, há também o cobiçado campeonato de construtores. Portanto, embora a Fórmula 1 seja um esporte, ela também é um negócio que envolve cifras milionárias, motivo pelo qual não raro certas decisões tomadas pelas equipes, apesar de não agradar aos fãs, satisfazem os interesses que há por trás delas.

Hamilton agradece o erro.

Hamilton agradece o erro.

Por se tratar de um negócio, a priori, se alguém vai ser favorecido pela Mercedes, esse é Lewis Hamilton. Sua contratação foi feita a peso de ouro e, como repetido por diversas vezes nos posts anteriores, ganha o dobro do salário de Rosberg. De outra banda, as conversas sobre a renovação de seu contrato foram adiadas, enquanto o alemão permanecerá por longo período na escuderia. Então, no caso da Mercedes, há mais motivos para acreditar na igualdade de tratamento.

Lógico que os pilotos escolhidos para liderar a equipe se mostraram, ao longo da carreira, ser mais competentes, consequentemente conseguiram patrocinadores mais fortes. Todavia, uma coisa é certa, o investimento feito deve dar retorno. É por tal motivo que uma frase está sempre presente não só na boca dos chefes, como dos próprios pilotos: o interesse da equipe vem sempre em primeiro lugar. Acontece que esse interesse, no fim das contas, é “meramente” financeiro, por isso repetidamente se sobrepõe à desportividade.

Os detalhes desse complexo cenário não são conhecidos pelos torcedores, pelo contrário, as equipes não fazem questão de mostrar as razões que motivam suas decisões, tornando-as, por vezes, controversas. No caso da F1, os resultados, por si só, não garantem o retorno dos investimentos. É preciso também que haja interesse do público e este vem caindo a cada temporada.

Todas essas teorias, por mais ridículas que sejam, acabam movimentando o esporte e atraindo o interesse pela categoria, inclusive o torcedor que nela acredita, defende sua tese como se fosse o dono da verdade, tamanha é a sua certeza.

Sendo assim, questiona-se: para quem interessa a transparência?