Mês: julho 2014

Até quando, Felipe Massa?

Neste domingo será disputada a décima etapa da temporada em Budapeste, Hungria, mas os acontecimentos do grande prêmio da Alemanha ainda repercutem no paddock, notadamente o acidente que envolveu Felipe Massa e o novato Kevin Magnussen. O brasileiro ficou indignado com a situação e apontou duramente o jovem dinamarquês como o responsável pelo fim prematuro de sua corrida:

Eu estava na frente, fazia a curva à frente dele. Se alguém precisa observar, é o carro atrás. Ainda não vi o acidente, mas normalmente o carro de trás precisa frear. Naquela curva não se pode ter três carros lado a lado e eu diminuí um pouco para que ficasse ao lado do meu companheiro de equipe. Geralmente é um cara quem vem da GP2 quem causa o acidente. A única coisa que me chateia com o que aconteceu é outro carro ter me tirado da corrida. Então estou extremamente desapontado

Durante a corrida, os comissários puseram o incidente sob investigação, mas decidiram não punir nenhum dos pilotos. Entretanto, após o relatório ter sido publicado, soube-se que Magnussen fora inocentado e que apenas a trajetória do piloto da ascendente Williams havia sido analisada. Não satisfeito, Felipe Massa, em vez de pôr uma pedra no assunto, ou mesmo desculpar-se, continuou afirmando que o único culpado era o dinamarquês. E mais, disse que a FIA precisava melhorar na escolha dos comissários.

Fim de linha na 1ª curva.

Fim de linha na 1ª curva.

E os pilotos? Qual a opinião deles? Durante a entrevista coletiva desta quinta-feira, aqueles que foram selecionados para integrá-la, dentre eles Sergio Pérez, foram questionados acerca do posicionamento da FIA. O mexicano, que colidiu com Felipe Massa no Canadá, foi comedido em sua resposta e afirmou que Magnussen fez de tudo para evitar o acidente, mas era difícil apontar um culpado. Em seguida, David Croft (comentarista da Sky Sports) aproveitou o ensejo para interrogar alguns pilotos sobre qual a postura deles após as colisões, destacando-se a resposta de Esteban Gutierrez:

Bem, acredito que é muito simples, basta que haja respeito entre todos nós e como disse Pastor, quando você comete um erro, tem de aceitá-lo e é muito importante que se faça em público também, para que se encontre o ajuste certo, pois, no fim, não é benéfico para ninguém. Se ambos batemos, ambos acabamos com as nossas corridas… Não importa o que acontece depois. O problema e a consequência já aconteceram…

A exemplo de Magnussen, Gutierrez veio da GP2 e estreou na categoria pela Sauber na temporada passada. Apesar de estar na Fórmula 1 há pouco mais de um ano, o mexicano, por conta de sua resposta, parece ter bem mais experiência que Felipe Massa que estreou em 2002, portanto há mais de dez anos.

É interessante ver a postura de Massa neste incidente, inclusive acusando a FIA de escolher mal seus comissários. É de se questionar por qual motivo ele não fez tal indagação quando Perez foi considerado culpado no GP do Canadá, ocasião em que os especialistas no assunto consideraram tal punição equivocada (http://wp.me/p4f3dZ-5Q).

Colisão em Silverstone.

Colisão em Silverstone.

Neste ano, a temporada de Felipe Massa tem sido marcada pela quantidade de incidentes em que se envolveu. Sem dúvida, ele não teve culpa em alguns deles, a exemplo da Austrália, quando foi acertado em cheio por Kamui Kobayashi, e da Inglaterra, sendo que neste último teve grande habilidade para diminuir a proporção da colisão com Kimi Raikkonen. Todavia o brasileiro precisa refletir bastante acerca dos motivos que o fizeram estar presente em todos eles e tirar lições.

Embora a Mercedes disponha do melhor carro do grid, a Williams tem oferecido um monoposto capaz de brigar por pódios e, dependendo da característica do circuito, até mesmo pela vitória. Chega-se a tal conclusão a partir do desempenho de seu companheiro Valtteri Bottas. O finlandês, que se encontra em plena ascensão, já somou 91 pontos contra apenas 30 de Massa e acumulou três pódios, sendo que um deles à frente de Hamilton.

Se o momento não é dos melhores, sempre há tempo para evoluir, amadurecer. Ainda resta a segunda metade do campeonato para que Felipe Massa mostre seu valor. Mas que fique claro: não há mais espaço para desculpas.

25/07/14.

“Uma temporada dura até aqui”, admite Sebastian Vettel.

A temporada atual tem sido para Sebastian Vettel o pior ano de sua carreira. O alemão de 27 anos, cuja trajetória é marcada pela precocidade, estreou como piloto titular na categoria principal do automobilismo em julho de 2007 pela equipe STR e em 2008 conseguiu sua primeira vitória.

Já pilotando pela RBR em 2009, fez com que Jenson Button, campeão desta temporada, tivesse uma segunda metade de campeonato bem acirrada, apesar da superioridade da Brawn GP. Na temporada seguinte Vettel sagrou-se campeão, repetindo o feito nos três anos seguintes.

Tido como o sucessor de ninguém menos que Michael Schumacher, inclusive apontado por muitos especialistas como futuro recordista de títulos mundiais, justamente devido ao seu rápido sucesso, Vettel tem deixado a desejar na atual temporada e, durante a gravação de uma entrevista realizada pela BBC ONE, ele não escondeu seu desapontamento:

Tem sido um início difícil, uma temporada dura até aqui. F1 pode ser fantástica, como eu vivenciei, mas também pode ser muito cruel quando se tem problemas. Você depende do seu carro. Faz parte do jogo.

Atualmente, o tetracampeão encontra-se na sexta colocação. Pior que isso, está atrás de Valtteri Bottas, Fernando Alonso e de seu novo companheiro, Daniel Ricciardo. Este último, que inclusive conseguiu sua primeira vitória na categoria no grande prêmio do Canadá, é o melhor parâmetro para avaliar seu desempenho.

Primeira vitória em 2008.

Primeira vitória em 2008.

Por conta das alterações no regulamento para a atual temporada, a RBR ficou impossibilitada de utilizar o exhaust blown diffuser – difusor soprado – cujos gases eram aproveitados para dar maior pressão aerodinâmica e, consequentemente, mais estabilidade ao carro, casando-se perfeitamente com o estilo de guiar do jovem alemão.

Sem o uso dos gases do difusor soprado, Vettel ainda não conseguiu se adaptar às mudanças deste ano, ao contrário do que tem mostrado Ricciardo. O desempenho do australiano tem sido uma grande, se não a maior, surpresa da temporada, pois está atrás apenas dos pilotos da dominante Mercedes e soma 28 pontos a mais que o tetracampeão.

Não obstante os resultados abaixo do esperado, Sebastian se mantém otimista para a segunda metade do campeonato e afirma que, enquanto tiver chances matemáticas, tentará a vitória. O alemão ainda disse que, apesar de não correr para chegar em terceiro ou quinto lugar, deve ficar feliz, desde que seja o máximo que se possa fazer, porém o objetivo é sempre ganhar corridas e lutar pelo mundial:

Se as coisas mudarem a partir deste fim de semana em diante, seria estúpido se não aproveitasse a oportunidade. Então você tem que estar otimista. Entretanto, sendo realista, a distância é muito grande. A Mercedes está numa posição de vencer todas as corridas, caso ela queira, portanto será difícil derrotá-la.

Tetra em 2013.

Tetra em 2013.

A temporada de 2014 chega a sua metade e a possibilidade de proibição da suspensão interligada pode tornar o campeonato mais emocionante, pois outras equipes podem ameaçar o domínio da Mercedes. Contudo, mesmo que o sistema FRIC seja banido, acredita-se que não haverá uma alteração substancial da atual hierarquia.

Todavia, será uma oportunidade para Sebastian Vettel provar que pode ser competitivo, mesmo sem estar guiando o melhor carro do grid, pois o projetista Adrian Newey sempre teve papel relevante em suas quatro conquistas.

Se vencer o quinto título consecutivo parece ser um sonho distante, o alemão tetracampeão tem a obrigação de, no mínimo, andar na frente do seu companheiro de equipe.

17/07/14.

Suspensão utilizada pela Mercedes poderá ser banida.

Segundo notícia veiculada no site da revista inglesa Autosport, a suspensão utilizada por algumas equipes, mas que é melhor explorada pela Mercedes, poderá ser banida já no Grande Prêmio da Alemanha.

De acordo com a matéria, a FIA informou às equipes que o sistema de suspensão dianteira e traseira interconectadas, denominado FRIC (Front-and-Rear Interconnected Suspension), é ilegal. O aviso de que o sistema está em desacordo com as regras foi feito nesta terça, após uma investigação detalhada.

O Diretor da FIA, Charlie Whiting, acredita que a forma como a suspensão é usada fere o art. 3.15 do Regulamento Técnico, o qual proíbe o uso de dispositivos aerodinâmicos móveis:

Agora que vimos e estudamos de perto todo o design do sistema de suspensão dianteira e traseira conecetadas, nós, a FIA, temos formalmente a visão de que a legalidade de tais sistemas pode ser questionada”.

fric renault

O sistema FRIC, que foi desenvolvido pela antiga Renault (atualmente Lotus) em 2008, ajuda na distribuição de peso do carro e, consequentemente, melhora sua performance. Mas foi a Mercedes quem melhor evoluiu seu conceito, o que pode explicar a sua larga vantagem em relação às demais equipes nesta temporada.

Apesar disso, não se sabe qual equipe será a mais prejudicada pela possível proibição desta suspensão, mas é grande a probabilidade de que a equipe alemã, líder absoluta tanto no campeonato de pilotos, como no de construtores, sinta o impacto da retirada do sistema mais intensamente.

Não obstante ferir o regulamento, a FIA poderá adiar a proibição até a próxima temporada, desde que haja unanimidade entre as equipes, pois a maioria faz uso do sistema FRIC. Foi solicitado às escuderias para decidirem em favor do adiamento para a temporada de 2015 ou pela proibição já para a próxima corrida, que será disputada no dia 20 de julho.

08/07/14.

Vencedor da guerra psicológica será o campeão.

Em meio ao clima de Copa do Mundo, o grande prêmio de Silverstone será disputado neste domingo. Apesar da superioridade da Mercedes, o campeonato tem reservado boas corridas e a disputa entre os pilotos da equipe alemã está cada vez mais emocionante.

Após o GP da Áustria, que voltou a fazer parte do calendário este ano, Rosberg ampliou sua vantagem. Para quem não se lembra, foi nessa pista que Rubens Barrichello abriu passagem para Michael Schumacher antes da bandeirada final, nos anos de 2001 e 2002, sendo que este último ficou marcado pela narração de Cléber Machado e seu “hoje não, hoje sim” (http://tinyurl.com/mxjtyfs).

O líder do campeonato de pilotos chega a Grã-Bretanha com 29 pontos a mais que seu companheiro de equipe Lewis Hamilton. No campeonato de construtores, a Mercedes já soma 301 pontos, mais do que o dobro da segunda colocada RBR. Difícil imaginar algo que possa tirar os dois títulos da escuderia alemã.

A vantagem considerável foi reconquistada após o abandono de Hamilton na corrida do Canadá e da vitória no GP da Áustria. Em Montreal, os carros da Mercedes apresentaram um superaquecimento inesperado, causando uma pane no sistema de recuperação de energia. Rosberg, por méritos seus, conseguiu manter-se na pista e logrou um importantíssimo segundo lugar. Já em Spielberg, o alemão largou em terceiro e superou os pilotos da Williams para subir no primeiro lugar do pódio. Hamilton largou em nono, mas minimizou o prejuízo com um segundo lugar.

Rosberg celebra vitória na Áustria.

Rosberg celebra vitória na Áustria.

A liderança do campeonato já havia sido retomada depois de vencer o GP de Mônaco. O fim de semana em Monte Carlo foi marcado pela polêmica do treino classificatório em que Rosberg causou uma bandeira amarela e Hamilton ficou impedido de dar sua volta rápida. Apesar de não ter recebido qualquer punição, Lewis disse que só queria uma luta justa, dando a entender que seu companheiro havia causado o incidente de propósito.

O clima na escuderia não ficou dos melhores, mas a equipe logo tentou mostrar ao público que havia aparado as arestas entre os dois pilotos. Todavia, apesar da bandeira branca ter sido hasteada pela Mercedes, a guerra está mais do que aberta. Nico Rosberg afirmou publicamente, após a corrida do Canadá, que possui a vantagem psicológica sobre o inglês:

Foi muito importante chegar ao final da corrida, pois o psicológico é uma grande parte do esporte. Se você tem estes resultados a seu favor, como eu tenho agora, isso lhe dá um extra, um pouco de vantagem, então já é uma ajuda.

A reação virá?

A reação virá?

Lewis, que já havia sofrido um abandono na primeira etapa, se vê novamente em situação delicada, mas está confiante de que pode recuperar os pontos perdidos e disse que aprenderia depois dos erros, principalmente o cometido na qualificação da austríaca:

Há muita coisa positiva para se levar em conta. Eu tinha um bom ritmo e não tirei proveito disso. Irei para a próxima corrida e me certificarei de fazê-lo. Estou sempre aprendendo a lição, mas é bom lembrar dos pontos que eu perdi por não terminar a corrida. Estou 29 pontos atrás. Não terminei a quantidade de corridas que eu gostaria e há um longo caminho a ser percorrido.”

Está claro! Nesse duelo, quem tiver maior força mental será o vencedor, desde que não haja interferência da equipe. A preferência da Mercedes é por Lewis Hamilton (recebe praticamente o dobro do salário de Rosberg) e parece que não estão fazendo questão de escondê-la.

Niki Lauda vem frequentemente dando declarações de que o inglês se recuperará e que não está sofrendo qualquer tipo de pressão, mesmo após o erro inesperado cometido em Spielberg:

Essas coisas acontecem. Não há nada de errado nisso. Não preciso monitorá-lo em nada. Eu o conheço por muito tempo e sua mente está completamente perfeita. Ele está extremamente motivado e isso é tudo. Não se preocupem com isto. Ele cometeu um erro na classificação, mas se recuperou na corrida

E novamente Hamilton terá de fazer uma corrida de recuperação. Com as condições climáticas imprevisíveis da classificação de Silverstone, o inglês resolveu, equivocadamente, abortar sua última volta rápida. Rosberg foi até o final e a pista melhorou. Resultado? O alemão largará em primeiro. Lewis, que era o favorito para a pole, sairá apenas da sexta posição. E não adianta negar, a pressão sobre ele está aumentando a cada etapa.

Apesar do talento inquestionável e sua velocidade impressionante, Hamilton já demonstrou em temporadas anteriores que o psicológico não é seu ponto forte. Se em 2007, ano de sua estreia, todos ficaram surpresos com seu alto rendimento, o campeonato escapou de sua mão após perder várias posições na largada por ter colocado o carro em neutro sem ter percebido.

O título em 2008, sem desmerecer sua conquista, veio por conta da incompetência da equipe Ferrari e de alguns erros cruciais cometidos por Felipe Massa. Em 2010, Lewis tinha um carro capaz de vencer, mas os memoráveis erros cometidos em Monza e Cingapura fizeram com que ele chegasse à última etapa com uma mínima chance matemática, deixando a briga final apenas entre Alonso e Vettel.

Um dos erros de 2010.

Um dos erros de 2010.

Por sua vez, embora não seja tão talentoso quanto o seu rival, Rosberg tem se mostrado mais constante. Sua dedicação e trabalho intenso vêm dando nas pistas o resultado, ao menos por ele, esperado. É a primeira vez que o alemão – que acabou de completar 29 anos e estreou na Fórmula 1 em 2006 – tem a chance de andar em um carro capaz de lhe proporcionar um título e ele não está disposto a desperdiçá-la.

O campeonato está praticamente na metade e ainda há tempo para Hamilton recuperar-se, até mesmo porque se acredita que em algum momento Rosberg também não terminará uma corrida, embora confiar nisso não seja das melhores estratégias.

A perda da pole position em Silverstone para seu companheiro de equipe, diante da torcida inglesa foi outro golpe duríssimo. Resta saber se Hamilton terá força o suficiente para buscar seu segundo título. Superar Nico Rosberg não será tarefa das mais fáceis.

Como ele afirmou, há um longo caminho a ser percorrido.

05/07/14.