Quem diria! Já na segunda etapa da temporada, Massa ouviu a tão temida frase que o assombra desde 2010: “Ok, Felipe, Valtteri is faster than you!” (Valtteri está mais rápido do que você). O fato não me causou espanto. Basta ler os posts anteriores e verão que jamais tive Felipe como o primeiro piloto da Williams. Também não o coloquei como mero escudeiro. Apenas defendi a tese de que encontraria um bom piloto e que não seria tarefa das mais fáceis derrotá-lo.
Ocorre que a ferida está aberta não de agora. Desde a época de Rubens Barrichello, a torcida sofre com as ordens de equipe, pois estava “mal” acostumada com os triunfos de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e o idolatrado Senna. Carinhosamente chamado de Rubinho, o antigo piloto da Ferrari teve a amarga missão de ser o sucessor de Ayrton.
Correndo em uma equipe de ponta, as esperanças tornaram-se ainda maiores. Doce ilusão. Além de ser contratualmente o segundo piloto, Barrichello sempre fazia cena diante das câmeras, não raro tentando se passar por vítima. Some-se isso a parcialidade exacerbada daqueles que detêm os direitos exclusivos de transmissão.
Pois bem. Voltemos ao assunto principal.
Em 25 de julho de 2010, no grande prêmio da Alemanha, Felipe Massa se viu obrigado a ceder sua vitória ao espanhol Fernando Alonso, então companheiro de equipe. Naquela ocasião, as ordens de equipe estavam proibidas, justamente por conta das controvérsias entre Schumacher e Barrichello. O fato gerou bastante polêmica e a equipe italiana foi multada em cem mil dólares.
Porém, o que houve na sequência? As ordens de equipes foram liberadas para a temporada seguinte! Os motivos? Todas as escuderias fazem uso delas. Por mais que tentem transparecer o contrário.
Durante algum tempo, a RBR foi tida como a equipe exemplo, pois deixava seus pilotos – Vettel e Webber – supostamente lutarem na pista. O que não é verdade. Havia muito disfarce por trás das disputas, detalhes que geralmente não temos acesso, embora perceptíveis, ou são bem mascarados através das diferentes estratégias adotadas para os pilotos durante a corrida.
Na equipe austríaca, a polêmica, coincidentemente, também se deu no GP da Malásia da temporada passada. A RBR tentou fazer a inversão de posições dentro da pista, dando a Vettel uma estratégia que o possibilitaria ser mais rápido nas voltas finais, pois lhe foi disponibilizado jogo de pneus macios, enquanto Webber usaria pneus duros. Mesmo assim, após a parada nos boxes, Webber, que guiou de forma irretocável naquela corrida, conseguiu sair a frente do seu companheiro, porém foi pego de surpresa e não resistiu ao ataque do alemão.
Voltemos mais uma vez a Felipe que, depois das decepções com Rubinho, passou a ser a nova esperança brasileira na Fórmula 1.
A nova possibilidade da torcida de ver novas vitórias fechou os olhos para fatos extremamente relevantes. Primeiro, em 2006, seu companheiro de equipe seria ainda o heptacampeão Michael Schumacher. Segundo, após a aposentadoria do alemão, seu substituto, em 2007, foi Kimi Raikkonen, que se sagrou campeão naquele ano. Terceiro, depois de duas temporadas ruins, o finlandês deu lugar a ninguém menos que Fernando Alonso. Importante mencionar que a escuderia possuía abertamente a filosofia de se ter um lutando pelo mundial de pilotos e outro somando pontos para o campeonato de construtores.
Ora. É de se perguntar por qual motivo a torcida tinha dificuldade de enxergar Felipe Massa como segundo piloto?! Sempre foi assim. Exceto em 2008, pois Raikkonen se encontrava desmotivado e a Ferrari com um carro capaz – senão o melhor daquele ano – de disputar o título. Lembrando, ainda, que a mídia insiste em vender a ideia de que foi a equipe, no GP de Cingapura, que tirou o campeonato das mãos do brasileiro. Esquece, porém, de aprofundar o tema em relação aos erros cometidos pelo piloto e sua parcela de culpa. Preferem vender a imagem do campeão por uma curva. Chega a ser desonesto.
Esquece a imprensa de explorar também o fato de que, em 2008, Kimi Raikkonen fez jogo de equipe a favor de Massa. É que, quando é para benefício do brasileiro, tudo é permitido. Essa situação por poucos é lembrada.
Não podemos negar que, para a maioria daqueles que acompanham a categoria, é frustrante ver o compatriota em situações delicadas nas quais, geralmente, se vê obrigado a ceder sua posição. Brasileiro estava acostumado com Senna desbancando Prost, Mansell… Quem estivesse em sua frente. Isso já não acontece faz um bom tempo.
Estou afirmando que Felipe Massa é um piloto ruim? Óbvio que não! É, porém, um piloto fora de série? Também não. É daqueles que para ser campeão precisa de um equipamento bem superior. Dificilmente terá outra oportunidade como a de 2008.
Já na segunda etapa da atual temporada, Massa se viu, novamente, diante de ordens de equipe, no sentido de abrir para que seu companheiro pudesse ultrapassá-lo. Felipe simplesmente as desobedeceu e a torcida brasileira o aplaudiu.
Afinal, quem está com a razão? Para os fiéis torcedores vale a máxima de que se quiser passar, terá de fazê-lo na pista. E para o chefe de equipe? Como ele deve encarar essa situação, diante da possibilidade de não somar ponto algum? A torcida ignora o fato de que o lucro da equipe é diretamente proporcional ao número de pontos somados.
No início da corrida, Bottas foi impedido de atacar Massa. Perto do término, o finlandês estava em melhores condições novamente e desejava lutar com Jenson Button pela sexta posição. Há realmente motivo para disputa interna em tais condições? É difícil compreender que, enquanto Valtteri e Felipe se digladiassem, Jenson Button respiraria? Que na luta entre os dois pilotos, ainda que Bottas realizasse a ultrapassagem, seus pneus estariam mais desgastados e teria consumido mais combustível, numa temporada em que sua economia é essencial? O que aconteceria? A vantagem do finlandês esvair-se-ia e no fim não haveria lucro para a equipe, pois haveria apenas a alteração interna das posições. A possibilidade de chegar a frente do piloto da McLaren iria embora, como de fato aconteceu.
Nesse grande prêmio, em várias ocasiões, foi pedido a Massa para que abrisse caminho para seu companheiro, entretanto não atendeu ao comando. Faltando poucas voltas para o final, Bottas solicitou autorização para atacar, porém não lhe foi mais permitido, provavelmente pelo fato de se temer o pior. Ao fim da corrida, o finlandês foi parabenizado, através do rádio, pelo oitavo lugar, lembrado por seu engenheiro de que poderia ter lutado por posições melhores e que conversariam internamente.
Felipe afirma que não se arrepende de nada. Bottas diz que devem tirar lições deste dia para o futuro.
Apesar de ter conseguido alguns pontos positivos com a torcida, Massa sai atrás do seu companheiro no ambiente interno. E ele, mais do que nenhum outro piloto em atividade, sabe bem a importância de se ter a equipe ao seu lado.