Fernando Alonso

Contradição? Mercedes volta atrás e admite usar ordens de equipe.

No disputadíssimo GP do Bahrein, dentre os duelos travados, talvez o que tenha chamado mais atenção foi o que aconteceu entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Não só por serem pilotos da mesma equipe, mas, também, pelo fato de estarem brigando pelo lugar mais alto no pódio. Naquela corrida, o inglês se manteve à frente de seu companheiro, conseguindo a segunda vitória na temporada.

Após a corrida, a equipe inteira estava em puro êxtase. Na ocasião, o alto escalão da Mercedes vangloriava-se de sua filosofia. Paddy Lowe, co-diretor executivo, afirmou que a competição vem sempre em primeiro lugar e que a não utilização de ordens de equipe era algo que deviam ao esporte e aos fãs (confira aqui o post (http://wp.me/p4f3dZ-2y).

Rosberg persegue Hamilton no deserto de Sahkir.

Rosberg persegue Hamilton no deserto de Sahkir.

Não demorou muito para que o tom do discurso mudasse. Após a corrida de Xangai, quarta etapa do campeonato, a equipe parece ter revisto toda a sua forma de pensar. As declarações de que a Mercedes pode, sim, fazer uso de ordens de equipe foram dadas a BBC pelo outro diretor executivo, Toto Wolff, em aparente contradição com seu colega:

“Pode haver situações em que não se pode perder muito tempo na disputa (interna), se você tem o inimigo logo atrás de você.

“Bahrein foi uma situação muito particular, porque nosso conjunto funcionou muito bem e lá tivemos uma vantagem muito competitiva, então é mais fácil tomar uma decisão pelo bem da corrida, pois você sabe que tem uma boa margem para quem está em terceiro lugar

“Quanto menor a margem fica, mais cuidado você tem de ter. Nossa regra é que a competição é o nosso primeiro inimigo, não o companheiro de equipe, então pode haver situações na corrida em que você tem de considerar isso (uso das ordens), mas veremos o que acontece.”

Toto Wolff parece ter memória curta. As polêmicas ordens não são novidades na equipe Mercedes.

Em 2013, no controverso GP da Malásia, durante as voltas finais, Nico Rosberg estava bem mais rápido que Lewis Hamilton, terceiro colocado naquele momento, e queria a chance de brigar pelo pódio. Ao solicitar à equipe autorização para ultrapassá-lo, Ross Brawn, então chefe da equipe, foi categórico em sua resposta: “Negativo, Nico”. No fim da corrida, Rosberg, nitidamente insatisfeito, mesmo recebendo elogios da equipe pelo trabalho realizado, apenas respondeu: “Lembre-se dessa.”

No GP do Bahrein dessa temporada, quando a disputa interna começou, Paddy Lowe também interveio pedindo para que seus pilotos se certificassem de “trazer os carros pra casa”, mas sustentou que não se tratava de uma ordem de equipe.

Afinal, a que se deve uma mudança tão repentina em sua postura? Se era algo que fazia parte de sua filosofia no automobilismo e de que tanto se orgulhava, qual motivo levaria a equipe, em menos de um mês, rever sua posição? A reposta é simples. A real ameaça das outras escuderias.

A RBR já mostrou ter grande poder de reação. Em 2013, apesar do início disputado, na segunda metade da temporada Sebastian Vettel venceu nove corridas consecutivas. Neste ano, a equipe austríaca praticamente não realizou testes na pré-temporada, mas já no GP da Austrália desafiou a Mercedes na disputa pela pole position, apesar de não ter oferecido perigo durante as provas.

Mas o que deixou a equipe alemã em estado de alerta foi outro motivo. Bastou a Ferrari conseguir um pódio com Fernando Alonso, no grande prêmio da China, para que, prontamente, a possibilidade de ordem de equipe fosse levada em consideração.

As peças introduzidas no F14t deixaram o carro da escuderia de Maranello mais competitivo, a ponto de desbancar a Red Bull e oferecer resistência a, pelo menos, um dos carros da Mercedes. O diretor técnico da Ferrari, James Alison, já informou que o carro terá mais mudanças para o GP da Espanha, que será disputado em 11 de maio.

Alonso leva Ferrari ao primeiro pódio da temporada.

Alonso leva Ferrari ao primeiro pódio da temporada.

Os debates acerca das ordens de equipe são sempre acompanhados de polêmica. Os fãs, em geral, as veem como algo negativo para o esporte. Para o brasileiro, então, o tema é ainda mais delicado.

Rubens Barrichello e Felipe Massa, esperanças brasileiras na fórmula 1, em determinado momento de suas carreiras, ficaram marcados por terem se submetido às ordens. Para o torcedor é difícil entender que o interesse da equipe deve vir em primeiro lugar. Por sua vez, a imprensa, interessada num tema que gera muita exposição, em nada contribui, pois explora-o de maneira negativa.

O exemplo mais recente em que a falta de comando custou um título foi em 2007. A McLaren havia contratado Fernando Alonso e decidiu que Lewis Hamilton, pupilo de Ron Dennis, fosse seu companheiro. O estreante mostrou ter condições de lutar pelo título. A equipe inglesa tinha o melhor carro do grid e deixou que seus pilotos brigassem “livremente”.

Ocorre que a vantagem da equipe de Woking não era tão ampla em relação à Ferrari. Hamilton e Alonso terminaram com 109 pontos. O campeonato de pilotos caiu no colo de Kimi Raikkonen (110 pontos), com direito a jogo de equipe a seu favor na última corrida.

As  polêmicas ordens não fazem bem à imagem das equipes, sendo que algumas negam o seu uso, subestimando, às vezes com razão, a inteligência de quem acompanha o esporte. Mas todas escuderias fazem uso delas, e, não raro, as emitem através de códigos.

As únicas ocasiões em que não há necessidade de se fazer uso é quando a superioridade de uma equipe é tão grande, que existe a certeza de se ganhar o campeonato de construtores e de pilotos, a exemplo da McLaren, só que na época de Senna e Prost.

Se fazer uso das ordens de forma aberta e transparente com seu torcedor arranha a imagem da equipe, transformando-a em vilã, pior é o caso onde se exalta que a vitória deve ser conquistada na pista e logo após se vê obrigada a fazer uso delas.

Talvez resida aí a verdadeira preocupação da Mercedes.

Hamilton firme na luta pelo Bi.

Após o abandono na primeira etapa da temporada, Lewis Hamilton sobrou nas três corridas posteriores, vencendo-as sem muito trabalho, exceto no GP do Bahrein, em que disputou, por algumas voltas, a liderança com seu companheiro de equipe Nico Rosberg. O alemão lidera o campeonato com 79 pontos, Hamilton, mesmo tendo ficado de fora em Melbourne, já soma 75. O inglês está em sua melhor forma e parece imbatível.

Se tudo continuar assim, ao final da próxima corrida, o campeonato já terá um novo líder, pois uma vitória vale 25 pontos, enquanto o segundo lugar, 18. A diferença entre os pilotos da equipe Mercedes é de apenas 04.

Lewis não escondeu, durante a festa do pódio, a facilidade de sua vitória, realçando, obviamente, o esforço da equipe em lhe dar um carro perfeito:

“Eu não acredito quão fantástico o carro está e quão duro todos trabalharam. Após a largada, realmente, só corri contra eu mesmo. Estou muito feliz por Nico estar aqui. Ótimos pontos para a equipe.”

Não foi o fim de semana dos sonhos para Rosberg. Após errar durante a classificação e ter conseguido apenas o quarto lugar, o alemão, que caiu para a sexta posição ainda na primeira volta, conseguiu fazer uma corrida de recuperação e chegou em segundo, reduzindo o prejuízo.

Pódio - GP da China.

Pódio – GP da China.

Por sua vez, a Ferrari conseguiu o primeiro pódio do ano. As novas peças introduzidas no F14T deram resultado. Os treinos livres davam mostra de sua evolução e a corrida a confirmou. Alonso largou em quinto, ganhou duas posições – após um toque com Massa – passou Vettel depois do primeiro pit-stop e manteve-se à frente de Ricciardo até o fim da corrida. O espanhol assumiu o terceiro lugar no campeonato com 41 pontos:

“Foi um bom fim de semana. Melhoramos um pouco o carro, comparado às três primeiras corridas, então nos sentimos mais competitivos, estar no pódio é uma boa surpresa para nós. Acho que estou em terceiro no campeonato atrás desses dois caras. Não tivemos o início de temporada que gostaríamos, mas ainda estamos na luta.”

Sebastian Vettel foi mais uma vez superado por seu companheiro. O australiano apresentou um rendimento muito superior, dando a impressão, pois ainda não foi confirmado,  de que o carro do tetracampeão apresentava problemas, a exemplo do que aconteceu no GP do Bahrein, em que foi possível perceber que seu assoalho arrastava pelo asfalto. O que em nada diminui o mérito de Ricciardo, que vem fazendo provas muito consistentes. Vettel chegou a desobedecer uma ordem de equipe, dificultando a ultrapassagem, momento em que a TV flagrou Horner fazendo cara de poucos amigos.

Felipe Massa, que novamente largou bem, teve sua corrida arruinada, após um erro da Williams, durante a primeira parada nos boxes para troca de pneus. Terminou a prova em 15º lugar. Seu companheiro de equipe, Valteri Bottas, chegou em 7º, à frente de Kimi Raikkonen.

Coletiva de imprensa.

Coletiva de imprensa.

Embora não tenha sido tão emocionante como a corrida do Bahrein, o grande prêmio de Xangai não teve o tédio das duas etapas iniciais. Hamilton se mostra franco favorito para a conquista do seu bicampeonato. Seu adversário imediato parece não ter o talento necessário para lhe impor resistência, além de ser claramente, embora a equipe negue com veemência, o segundo piloto da equipe.

Hamilton, que chegou a sua 25 ª vitória, igualando-se a ninguém menos que Jim Clark e Niki Lauda, foi contratado para assumir o papel de líder da equipe. Lewis que era tratado como filho por Ron Dennis, deixou a McLaren, depois da oferta milionária feita pela equipe alemã e talvez por compreender que a Mercedes seria forte, a partir da introdução das novas regras.

Já a situação de Rosberg se assemelha à vivida por Felipe Massa na Ferrari. Se a equipe italiana tivesse confiança em seu talento, não teria trazido Raikkonen ou Alonso. Da mesma forma, a Mercedes não teria contratado Hamilton.

Bem verdade que a RBR evoluiu, levando-se em conta os treinos da pré-temporada, e a Ferrari mostrou-se mais competitiva na China. Todavia ambas terão de dar saltos gigantescos na evolução dos seus carros. Afinal a Mercedes também trouxe e trará novas peças.

Embora Alonso tenha chegado ao pódio,  a diferença para o inglês foi de 25 segundos, uma eternidade no mundo da Fórmula 1. Lewis Hamilton parece inalcançável em 2014.

Performance da Ferrari é inaceitável.

Fernando Alonso terminou o GP da Austrália em quarto lugar, a 35s do vencedor Nico Rosberg, enquanto que seu companheiro de equipe chegou num modesto sétimo lugar, 57s atrás do alemão.

Se formos considerar a posição em si, um quarto lugar não é das piores colocações, ainda mais quando se trata da primeira etapa do mundial. Porém, quando se leva em conta as circunstâncias em que a corrida se desenvolveu, a equipe de Maranello tem sim com o que se preocupar.

Ambos pilotos ferraristas herdaram uma posição, após a desclassificação de Daniel Ricciardo, e sofreram bastante durante a corrida. Logo na largada, Alonso perdeu posições, sofreu pressão de Bottas, que só não ultrapassou o espanhol por ter cometido um erro bobo – algo incomum entre os frios finlandeses – foi atacado por Jenson Button e, apesar de se mostrar mais veloz que Hulkenberg, foi incapaz de ultrapassar o piloto da Force India nas retas de Albert Park.

Já Kimi Raikkonen fez uma corrida discreta e parece sofrer mais que seu companheiro, em relação à falta de competitividade, mostrada até então, pelo F14T.

Porém a performance demonstrada na primeira etapa do campeonato foi considerada inaceitável. E o tom crítico não veio das “arquibancadas”. A cobrança é interna e parte de ninguém menos que do próprio diretor técnico e chefe de design James Alisson, que participou da vitoriosa era Schumacher, e volta nessa temporada à equipe italiana a pedido de Fernando Alonso, com quem também trabalhou na conquista de seus dois títulos mundiais pela Renault.

O diretor técnico se mostrou satisfeito com a confiabilidade do carro, mas admitiu que terão um trabalho árduo para competir em iguais condições com a Mercedes. Eis o que afirmou Alisson:

“Há muitas coisas no F14t que estão funcionando muito bem. As largadas e o ritmo nas curvas – especialmente nas de alta velocidade – são pontos particularmente fortes. Mas temos que trabalhar mais na estabilidade das freadas e na velocidade de reta “

Vai uma carona?!

Vai uma carona?!

Kimi Raikkonen, que sofreu com o comportamento do carro ao entrar nas curvas, afirmou que a Ferrari precisa encontrar algo mais em todas as partes do carro e no motor. Já Alonso, apesar de estar relativamente contente com o quarto lugar, não estava nem um pouco satisfeito com a distância para Rosberg ao fim da corrida.

Apesar das deficiências encontradas na primeira etapa, Allison afirma que a introdução do novo regulamento significaria mais espaço para desenvolvimento:

“Todas as temporadas recentes na F1 têm se caracterizado pela batalha feroz no desenvolvimento, de março a abril. Com as novas regras este ano, as oportunidades para melhorar o carro são imensas e podemos esperar que a corrida do desenvolvimento seja bem mais intensa do que o normal.”

Ao chegar, James Alisson afirmou que a equipe teria condições de voltar à sua época áurea, mas, talvez por saber da pressão que o espera, tratou de deixar claro  que uma só temporada não seria suficiente para por em prática suas ideias. Ele está ciente de que a Ferrari, seus torcedores e principalmente Fernando Alonso têm pressa.

Veremos qual será o comportamento do F14t no GP da Malásia, neste domingo, que muito provavelmente já terá inovações.

E você? Acredita na reação da Ferrari? Aproveite e deixe seu voto! 

Jenson Button poderia se beneficiar das novas regras.

Se a maioria aponta Lewis Hamilton como o favorito deste ano, para o ex-piloto, atualmente comentarista da BBC Radio 5 Live F1, Allan Mcnish, outro inglês, Jenson Button, seria quem mais poderia se beneficiar das novas regras introduzidas para a atual temporada, as quais trouxeram os motores 1.6 V6 turbo, o ERS (sistema de recuperação de energia) e limite de combustível, assim como mudanças significantes na aerodinâmica dos carros.

Por conta disso, afirma que todos estão em uma curva de aprendizado, pois as equipes e pilotos terão de descobrir como extrair o máximo dos novos designs dos monopostos. O carros terão menos pressão aerodinâmica e aderência, em oposição ao maior torque dos motores. Junte-se isso à necessidade de terminar as corridas usando não mais do que 100 kg de combustível.

Toda essa mudança trará novas exigências aos pilotos. E esse cenário poderia se encaixar com o estilo do piloto da McLaren.

A economia de combustível já fazia parte da F1 do ano passado, porém pode se tornar mais importante, o que seria um aliado dos pilotos que melhor fazem uso do consumo de gasolina.

Button pilota naturalmente dessa forma. Com estilo suave e progressivo e quase sempre delicado no acelerador, ele já brilhou dirigindo no molhado ou condições difíceis. Por tais motivos, o comentarista escocês espera que ele possa extrair o máximo do carro, principalmente em corridas que exijam o alto consumo de combustível.

Em contraste, os pilotos com estilo agressivo estariam em desvantagem. Seria o caso de Pastor Maldonado, cita Allan, sem querer desejar má sorte ao venezuelano. Por ser a agressividade uma característica sua, embora seja bonito para os espectadores, não seria de grande ajuda neste novo cenário.

Pilotos assim terão de afinar seu estilo para um novo formato. Não que seja impossível, pelo contrário, mas será algo em que terão de trabalhar. E mesmo tratando-se de pilotagem em mais alto nível, haverá aquele que se adaptará melhor.

Favoritos?

Favoritos?

Segundo Mcnish, o espanhol Fernando Alonso é um nome a ser levado em consideração, por se adaptar facilmente em várias situações. Afirma também que Sebastian Vettel está seguindo nesta direção e que Kimi Raikkonen agora é um piloto diferente da época de McLaren. Apesar de não ser tão rápido quando o carro não se encaixa com seu estilo de pilotagem, espera que o finlandês dê a volta por cima, principalmente pelos resultados conquistados após o seu retorno.

Disse que tem muito interesse em saber como se comportará a dupla do time alemão. Ano passado, apesar de ainda estar aprendendo a trabalhar com a Mercedes, Lewis apresentou performances brilhantes, porém a maioria na qualificação, enquanto Rosberg andava muito bem no domingo. Finaliza comentando que a forma como Hamilton responderá aos novos desafios será fascinante.

Sinceramente só consigo vislumbrar Jenson Button campeão, por mais que seu estilo de pilotagem se encaixe melhor com as novas regras, caso ele tenha, a exemplo de 2009, um carro superior ao de seus adversários. Não se confirmando essa hipótese, apresentará algumas belas atuações e eventualmente vencerá corridas.

Notei uma certa torcida de Alan Mcnish para Lewis, pois se Maldonado é agressivo, Hamilton não fica muito atrás, até mesmo por ser um dos mais velozes do grid, sem falar que é famoso pelas “fritadas” de pneu.

Agora é esperar. Domingo teremos a primeira corrida e todos esses elementos poderão, enfim, ser vistos.