GP da Malásia 2013: Multi 21, o dia em que a farsa da RBR acabou.

Chegamos a segunda etapa do campeonato, o Grande Prêmio da Malásia, geralmente marcado por corridas emocionantes, devido à instabilidade do tempo. Resolvi falar da corrida de 2013, pois à época este blog não estava no ar, mas sempre me recordo do incidente do Multi 21 que envolveu a equipe RBR e seus respectivos pilotos, naquela ocasião Mark Webber e Sebastian Vettel.

Coincidentemente é o segundo texto consecutivo que abordo sobre a RBR, mas deixo claro que não tenho nada contra a equipe austríaca. A crítica feita no post anterior foi justamente por conta da decepção que tive ao perceber que a Red Bull, a princípio, não ameaçará a hegemonia da Mercedes. Consequentemente não disponibilizará um carro competitivo para Daniel Ricciardo e Daniil Kvyat mostrarem seu potencial. Servindo de paliativo, a Ferrari parece ter crescido a ponto de ameaçar a pole de Hamilton na prova que será disputada neste fim de semana…

Voltando ao assunto.

A RBR sempre vendeu aos fãs a falsa ideia de que deixava seus pilotos disputarem na pista sem qualquer intervenção, ou seja, sem fazer uso das controversas ordens de equipe. Do ponto de vista do marketing, isso foi ótimo, já que a equipe ficou com a imagem de “mocinho”, enquanto a Ferrari já fazia papel de “vilão” há muito tempo. Caso não se recorde do episódio, relembre a disputa:

Mas por que eu considero aquele “incidente” uma farsa?

Ora, desde sempre o primeiro piloto da equipe era Vettel. O alemão sempre foi favorecido. Em 2010, quando a equipe apareceu como grande favorita a conquista do título, que veio a se confirmar no fim da temporada, a RBR deixou claro quem era seu piloto nº 1. No grande prêmio de Silverstone daquele ano, a equipe estreava uma nova asa dianteira e havia somente duas delas para aquela corrida, ou seja, uma pra cada piloto.

Durante aquele fim de semana, nos treinos livres, Vettel quebrou a sua. O que aconteceu? Ele recebeu a nova que, em ntese, era do australiano, que correu com o carro desatualizado, mas acabou vencendo a corrida, comemorando com uma frase que traduzia uma irônica realidade: “nada mau para um segundo piloto”.

No grande prêmio da Malásia de 2013, Vettel estava consolidado na categoria, pois já havia conquistado três títulos mundiais. Ainda assim, era forte a imagem da RBR no que dizia respeito à liberdade dos pilotos disputarem sem interferência. Naquele dia, desde o início da corrida, a estratégia diferente adotada para os pilotos despertou minha atenção: a de Vettel era nitidamente melhor.

O alemão terminaria a corrida com pneus macios, portanto mais rápidos, enquanto Webber faria o último trecho com compostos duros. No entanto, a Red Bull não contava com um certo fator: Webber fez uma das suas melhores corridas. Apesar de todas as tentativas da equipe e de ter sido por muito pouco, Vettel saiu atrás de seu companheiro após a última parada nos boxes.

Naquele momento, a vitória de Vettel já era certa, pois ele estava com pneus macios e não teria maiores dificuldades para ultrapassar Mark Webber, o que acabou acontecendo. Ocorre que a equipe já havia dado a ordem para os pilotos manterem as posições, independentemente de o alemão ter um carro mais rápido nos momentos finais da corrida. O desfecho todos se recordam. O então tricampeão desobedeceu a equipe e venceu o grande prêmio.

A ordem foi dada através de um código. Ambos haviam recebido o recado para ajustar o mapeamento para “Multi 21”. Um código que significava que os pilotos deveriam manter as posições. Há outro vídeo no youtube que transcreve as mensagens de rádio naquele dia. Chega a ser constrangedor, como também fora a celebração do pódio (http://tinyurl.com/op3qhf8).

Webber manda um "oi" para Vettel.

Webber manda um “oi” para Vettel.

Particularmente, em regra, não vejo problema no fato de qualquer equipe favorecer um de seus pilotos, principalmente quando apenas um deles poderá ser o campeão. Obviamente que há situações diferentes, quando uma escuderia impõe tamanha vantagem, na qual não se justifica a sua intervenção, mas isso é exceção. Portanto, não há razão para criticar a opção da equipe por Vettel, muito menos o fato dele ter desobedecido a ordem e ter abocanhado mais uma vitória.

Minha critica sempre foi em relação à equipe, pois a RBR tentou vender algo que não era (na verdade nunca foi). Apesar disso ser algo nítido, principalmente aos olhos de quem tem o papel de nos fazer enxergar a realidade, muitos jornalistas especializados no assunto compraram a ideia do time austríaco e venderam-na aos telespectadores. A suposta filosofia da Red Bull foi festejada por muito tempo. Mais uma vez, a transparência mostrou ser exceção na Fórmula 1.

Agora estamos em 2015. Apesar da Mercedes ter conseguido a pole position, novamente todos os olhos se voltam para o tetracampeão Vettel, que conseguiu um grande resultado ao ficar entre Hamilton e Rosberg. Aguardemos o desenrolar de mais um Grande Prêmio da Malásia.

A largada será imperdível.

28/03/2015.

8 comentários

  1. É verdade, você analisou muito bem a questão.

    Havia ordem de equipe na RBR sim.
    A minha dúvida é: será que o pessoal que acompanha F1 cria que não havia?
    Será mesmo?
    De minha parte, o que eu sempre admirei na RBR foi se constituir em alternativa ao rol das protegidas da FIA.
    Agora, qual a equipe de ponta que deixa seus pilotos se baterem na pista?
    Só conheço a RBR.
    Você vê isso acontecendo na Ferrari? Piada.
    Ponto pros touros!
    Angariou a simpatia daqueles que não suportavam mais os desmandos da Nonna, mesmo sem ter tido o mérito. Espertos.

    Concluindo, as ordens de equipe sempre houve.
    As equipes continuam as mesmas, os pilotos é que mudaram.
    Montoya? Senna? Piquet? Hunt? Nunca mais.
    Hoje, os pilotos morrem de medo do estabilishment.
    Coube ao garoto fazer o que a maioria dos campeões do mundo fazem, traem.

    Aguardando a coluna pós GP.
    Abraço.

    1. Fala, Attila. Preciso arrumar tempo pra escrever. Estava viajando. Lancei esse nas últimas sábado à noite. Acabei de chegar em casa… Muita gente acreditava que na RBR não havia ordem de equipe. Quanto aos carros baterem, vimos uma vez e isso gerou muito desconforto interno. A Ferrari sempre fez o jogo, mas sempre foi transparente nesse sentido. Ao meu ver, ponto para a escuderia italiana. No resto, concordo. Obrigado pela participação e volte sempre!!!

  2. Sabe o que seria legal, Diego?
    Patrocinadores diferentes pra cada carro.
    Rapidamente daria um jeito nessa anti-esportividade.
    Mas os fórmula são muito frágeis pra uma competição corpo a corpo.
    Aguardo ansiosamente sua nova coluna para confabularmos sobre a F1.
    Abraço

  3. Eu gostaria de ver cada carro com seu próprio patrocinador.
    Como no automobilismo norte americano.
    Dificilmente veremos Castroneves colidir com Power por uma posição, mas um abrir pro outro, acho difícil.
    Mas a visão de automobilismo e de espetáculo é bem diferente.
    É só uma ideia, não sei se daria certo.
    Mas, uma Ferrari pintada de lata de Coca-Cola abrir pra uma Ferrari pintada de Pepsi seria uma chacota tremenda.
    Abraço

    1. Só agora entendi, meu amigo! Independência total dos pilotos… Boa ideia sim! Apesar de ir na contramão do campeonato de construtores. Companheiros de equipe brigando entre si geralmente resulta em prejuízo. Sem contar na tensão interna… Seria curioso ver a F1 adotar essa filosofia…

  4. Falando em ultrapassagens, leio agora que o Bernie que botar 3 carros por equipe grande.
    Pra quê? Pra virar ciclismo?????
    Se a vitrine, a categoria top do automobilismo, não consegue atrair investidores para formar um grid decente, o problema só pode estar na gestão do negócio.
    Negócio cada dia mais apoiado exclusivamente no glamour, na tecnologia, na história, na beleza estética e no poder dos Capos.
    Pela esportividade e relacionamento com os fãs, nada é feito.
    A F1 exerce um fascínio sobre todos nós.
    Porém, eu me sacio de automobilismo e emoção com a GP2, e degusto com prazer os raros momentos de esportividade genuína da F1, como se uma sobremesa requintada fosse.
    Abraço

    1. Essa conversa é um pouco antiga… Desde 2008, 2009 que ouço isso. Recentemente voltou a circular o paddock. Eles já perceberam que precisam mudar a gestão. A importância que eles estão dando às redes sociais denuncia isso. Aguardemos as outras medidas.

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